segunda-feira, outubro 18, 2010

FIDELIDADE ONDE ESTAIS?

Pe. Anderson Pina
Vice-reitor do Seminário Maior

Vivemos em tempos de incertezas, em tempos do descartável, do efêmero, do conhecido uso fruto. O utilitarismo vigente que entrou em nosso cotidiano afeta de maneira invasiva nossos compromissos de fidelidade, nossos compromissos definitivos, nossa lealdade à palavra dada.
Pensemos nas promessas do matrimônio, nas promessas dos consagrados pelo Reino de Deus. Em toda parte houve-se dizer: o matrimônio esta em crise; o celibato já era; os religiosos já não fazem votos perpétuos. Aonde esta a aliança de um compromisso assumido por toda uma vida?         
         Para muitos a ruptura com os compromissos não constitui abandono ou traição condenável; surge, ao invés, como gesto de valentia e coragem de romper com todo anterior, que agora se vive como carga pesada e imposta, como se não fosse fruto de uma liberdade com responsabilidade. A única coisa importante é a fidelidade ao momento presente, qualquer compromisso para o futuro escraviza e aliena.
Em relação a nós sacerdotes é fato, bastante atual, que a dificuldade de fidelidade aos compromissos feitos na ordenação também é fruto de uma sociedade consumista-utilitarista: já que a vida é breve vamos usufruí-la a todo custo. Façamos uma experiência de ser padre, se der certo tudo bem...
Pensemos nos problemas humano-afetivos, a grande preocupação da formação sacerdotal hoje, tais problemas devem ser encarados de forma clara, humana e verdadeira por parte daqueles que são os principais responsáveis pelo processo formativo: os Bispos e os padres formadores.      
Muitas vezes buscamos mascarar tais problemas em nome de uma tolerância e benevolência que ofusca a verdade e compromete a verdadeira caridade, o Senhor disse:  “ conhecereis a Verdade e a Verdade  vos libertaras”(Jo 8,32) , os problemas estão ai, na nossa frente e é preciso enfrentá-los, como disse acima, com sensibilidade humana, mas, com clareza de verdade.  
A fidelidade é como uma tarefa especifica que exige um desejo apaixonado e continuado para com a Pessoa com a que  fizemos uma aliança, Com Aquele ( o Cristo)  pelo qual vale apena existir e arriscar a própria vida “ quem perder a sua vida por causa de mim a receberá”(Mt 10,39)
Para nos sacerdotes tal fidelidade não pode ser fruto somente de uma entrega abstrata a Deus, é preciso ser sustentada por fatos concretos: fidelidade na oração; amor a eucaristia, e aqui não basta meia hora, uma hora, até mesmo duas ou três horas de celebração eucarística, é necessário uma “vida eucaristizada” que significa reconhecer a fraqueza e erguer as mãos: “Senhor salva-me”(Mt 14,30); fraternidade sacerdotal (amizade verdadeira); e apostolado alegre e fecundo.
Não somos fieis pela repetição monótona dos atos (pensemos nos atos litúrgicos), mas pela adequação do ato à vida, ‘’mostra-me tua fé sem obras, que eu te mostro pelas obras a minha fe”(Tg 2,18)     
Há quem até mesmo  mantém a fidelidade por orgulho, para exaltar-se com o dever cumprido, a estes o senhor tem uma palavra: “Quem se humilha será exaltado, quem se exalta será humilhado”(Mt 23,12).  Estes não sente vergonha de ter rompido com o Amor, de ter destruído uma amizade, mas estão preocupados com a honra ferida.
É verdade a fidelidade não é fácil, lembremos de Jó; do servo sofredor, de  Pedro “ quando fores grande iras para onde não queres ir”( Jo 21, 18); de Paulo “não faço o bem que quero mas o mal que não quero”(Rm 7,15) etc. Mas não podemos esquecer que desde a Igreja primitiva ao cristão foi atribuído o adjetivo fiel.
Certamente é verdade que todos nós, repito todos, estamos suscetíveis a duvidas e a vacilações diante das promessas feitas; como também é verdade que não fizemos promessas numa mesa de bar, mas no Altar do Senhor.