sexta-feira, novembro 26, 2010

Veja a entrevista de Dom Henrique Soares da Costa sobre a polêmica questão do uso da camisinha em resposta aos últimos pronunciamentos por parte da impremsa

 SER CRISTÃO E A TRISTEZA DO MORALISMO E DO  SENSACIONALISMO


Caro Internauta, dei uma entrevista a um jornal e partilho com você. Fica por aqui minha palavra sobre este assunto tão aborrecido e sem importância alguma! Eis as perguntas e minhas palavras:

Antes de tudo, é preciso notar o quanto é triste a situação dos meios de informação atualmente. O Papa deu uma entrevista de seis horas, bela, abrangente, profunda, cujo centro é mostrar que ser cristão é uma alegria, a alegria da adesão amorosa à Pessoa de Jesus Cristo que transforma e ilumina a nossa vida e o nosso modo de ver o mundo e os demais, e tudo quanto a imprensa consegue sublinhar é uma palavra do Santo Padre sobre o preservativo - e, diga-se de passagem, uma palavra absolutamente periférica, dita apenas como exemplo de uma tese! Parece que os meios  de comunicação, ao menos no que se refere à fé, somente se interessam por polêmica,  verdadeira ou artificial. É muito triste, porque mostra uma filosofia de desinformação e superficialidade numa área tão importante como a comunicação...

- Para a Igreja católica, o preservativo é seguro e impede a disseminação do vírus da AIDS?
Esta não é uma questão religiosa; é questão médica, científica. Os próprios médicos advertem que o preservativo não é 100% seguro. A questão da Igreja é de outra ordem: ordem moral. Para os católicos e os religiosos de modo geral, o ato sexual deve ser um ato de amor, de entrega total num contexto de compromisso duradouro, como o matrimônio. A Igreja clama para que o sexo não seja coisificado e banalizado, como tem acontecido de modo lastimável na nossa sociedade. Quanto vazio, quanta frustração, quanta solidão nesta área de um sexo banalizado! Desvinculou-se sexo, amor e procriação. Isto nos leva a uma situação infrahumana, de uma triste banalização de um elemento da existência que é tão importante: a sexualidade. Quanto a impedir a disseminação do vírus, o preservativo ajuda sim, mas não deveria ser contemplado como a única solução. A educação para o amor, para a castidade, para uma  sexualidade responsável e humanizadora deveria ser um elemento presente na educação sexual.

- O uso da camisinha estimula a busca por sexo fora do casamento?
Certamente estimula. Penso que isto é óbvio. Mas, é inútil ficarmos discutindo sobre preservativo, anticoncepcional e temas do gênero sem compreender que tal discussão somente tem sentido à luz de valores muito mais profundos: O que é o homem? Qual o sentido da sexualidade? Qual a relação entre sexo e amor? Qual a relação entre sexo, amor e procriação? Qual o nexo entre sexo e família? Qual a ligação entre sexo, amor e responsabilidade? Para quem crê ou para uma pessoa que deseje viver uma vida realmente humana, responsável e madura, tais questões não podem ser ignoradas. A mim aborrece muitíssimo discutir temas morais fora deste contexto, pois a discussão degenera em moralismo ou sensacionalismo midiático. A missão da Igreja não é viver dizendo "não" ou discutindo moral, mas anunciar Jesus. A moral cristã é decorrência do encontro com Cristo. Sem este encontro, todo o edifício moral do cristianismo fica praticamente incompreensível e parecendo castrador.

- O posicionamento do papa significa o início de uma mudança da igreja em relação à contracepção e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis?
Nada! Mudança alguma! É só comprar o livro, quando ele sair em português, e lê-lo. Bento XVI é um homem muitíssimo inteligente, profundo e humano nas suas reflexões. O que ele diz apenas é que pode, em determinados casos, haver certa moralidade, certo grau de responsabilidade em quem usa o preservativo, mesmo que, em si, tal uso seja errado. Atenção: o uso em si é errado, pois o ato sexual deveria ser no contexto da união conjugal; no exemplo dado no livro, Papa chama atenção para a intenção de quem o usa. Mas isto é óbvio, isto sempre se disse, isto os bispos e  padres sempre  aconselharam no confessionário! Dou o exemplo: para um cristão, é errado, é pecado um jovem ter relação sexual antes do casamento. Não deveria tê-la de modo algum! Mas, se vai ter, é menos ruim, por senso de responsabilidade, que use o tal preservativo, para não aumentar ainda mais o seu erro: além do pecado da fornicação, a irresponsabilidade tremenda de uma gravidez precoce, fora do contexto da maturidade exigida no matrimônio. Foi um exemplo assim que o Papa deu, afirmando que, o preservativo, apesar de errado, pode ser um sinal de responsabilidade para com a outra pessoa e, portanto, um iniciozinho de humanização da sexualidade. Não sei por que tanto fuá em torno de algo tão simples. Na verdade, o Ocidente não pode passar sem ouvir a Igreja, amando-a ou odiando-a. Pensando bem, a velha e boa Igreja católica e a palavra daquele que é como um pai para o Ocidente, continuam sendo a consciência de nossa civilização; o que é uma tremenda responsabilidade para nós católicos e cristãos!

- Algo mais que o senhor tem a acrescentar?
Gostaria de sugerir a crentes e não crentes a leitura deste livro do Santo Padre. Aí se revela um homem de carne e osso, muito diverso daquele plantado e apresentado por certos setores midiáticos. Bento XVI é um dos homens mais lúcidos, inteligentes e abertos do nosso tempo.