quarta-feira, outubro 20, 2010

O ABORTAMENTO EM QUESTÃO

Agrada-me muito esta polêmica do presente período eleitoral, envolvendo a questão do aborto. Não é polêmica hipócrita, como pensam alguns... É verdade que se aborta no Brasil de modo clandestino; é verdade também que o aborto tem uma dimensão de saúde pública. Mas, é muito mais verdade que o abortamento é um problema moral de primeira grandeza, pois está intimamente ligado à idéia que nós temos do que seja o homem, da existência ou não de Deus, da dignidade e do início da vida humana... Problemas grandes, sérios, urgentes! Quem não compreende isto não pode sequer compreender a seriedade que a questão tem para muitos!
Até hoje, em certa medida, nossos políticos foram desatentos ao pensamento do povo brasileiro sobre estas questões morais. Seriam questões de menos importância, pois não envolvem dinheiro nem poder nem diretamente a luta por melhoria social – como se o homem fosse somente isto... Neste sentido, acho moralmente vergonhoso os que querem fazer calar a discussão sobre o aborto para falar somente de questões sócio-econômicas. É cínica esta postura, quer seja defendida por leigos, por clérigos ou por sem religião...
Não foi um ou outro candidato que colocou a questão do aborto nem tampouco um bando de reacionários e fundamentalistas cristãos que desrespeitam a laicidade do Estado brasileiro. Afirmar isto é ser obtuso. Se 70% da população brasileira são contrários à prática do abortamento, é mais que justo que o tema seja discutido. E não adianta algum político dizer que não quer mais discuti-lo: é o povo, são os eleitores quem determinam a agenda, não os políticos que serão eleitos! O tema começou a ser discutido pela internet e ganhou as ruas! Quanto à laicidade do Estado, em nada é ferida: aqui tem-se cidadãos que querem discutir, ouvir as propostas dos candidatos com honestidade e, depois, a partir de seus valores – que incluem religião, visão sócio-econômica, aspirações materiais, etc – decidirem quem deve governar o País. Quanto à Igreja, não tem candidato e não faz campanha pró ou contra um candidato; mas tem ideias claras e gostaria de saber- juntamente com todos os brasileiros - o pensamento e o projeto de cada um dos candidatos, com clareza e honestidade. Isto é democracia e exercício da cidadania. Se o PT é colocado na berlinda é porque foi o único partido que fechou questão de modo favorável à legalização do abortamento. Fê-lo sem discutir com a sociedade que pretende continuar governando. Agora é a hora de discutir e apresentar sua reais intenções e propostas. Esta é a questão. Vamos a ela sem paixões e sem demagogias, sem satanizar nem canonizar quem quer que seja. Mas vamos com clareza, com honestidade e sem demagogias. A eleição é para presidente, não é para sacristão: não exijo que o próximo presidente do Brasil seja católico praticante, mas exijo que se comprometa a respeitar os sentimentos da grande maioria do povo brasileiro, formada por cristãos e não aprove leis que firam nossos valores e os valores humanos em geral!
 Texto: Dom Henrique Soares da Costa